DOMINGO DE MANHÃ
Sem disposição nenhuma, olhei para o relógio que marcava 8:30 da manhã. Levantei um corpo pesado de preguiça e olhei a piscina do condomínio vazia. Nenhuma criança brincava. Apenas o espelho d'água azul tremia com a força dos ventos de Outubro de 2016.
Onde estava a disposição das pessoas? Todo mundo contaminado!
Minha esposa Aline e minha Filha Sophia já estavam acordadas. Fui ao encontro delas com um grande abraço e um caloroso beijo. Amo muito essas duas mulheres.
— Bom dia princesas! — Soletrei as palavras mecanicamente.
Sophia tem apenas dois anos de idade e o abraço dela é revigorante. Da mamãe também.
Olhei para o semblante das duas e constatei que estavam contaminadas pelo vírus da falta de disposição do domingo pela manhã.
E agora? Eu tinha que fazer alguma coisa para alegrar o domingo em família.
Tive uma idéia!
Vou apelar para um ingrediente secreto, um objeto transcendente que uso apenas em situações extremas.
Onde estava, afinal?
Procurei na estante de livros.
Na gaveta da sala de som.
No guarda roupa.
E em vários cantos impensáveis.
Encontrei! Estava na gaveta do Rack da sala.
Empunhei o objeto com as duas mãos contra a luz do sol que entrava pela porta de vidro da sala. Sapequei um caloroso beijo. Sophia e Aline sorriram. Aquele objeto tinha poder.
Abri o objeto e retirei o disco espelhado de dentro da caixa. Mostrei para Sophia. Os olhinhos vidrados revelavam a imaginação infinita de criança elaborando mil coisas.
— “Uau” — Sophia falou alto. Eu e Aline rimos bastante.
Onde ela aprendeu a dizer “uau”?
O dia estava ficando melhor. O objeto tinha poder.
Coloquei o disco espelhado no aparelho de som. Apertei o play. A música iniciou e a Sophia começou a dançar. Rimos todos juntos.
O som da sanfona reverberava as paredes do apartamento, fazendo a manhã de domingo mais feliz. Todos dançávamos acompanhando alguns passos coreografados pela Sophia. Demos as mãos e repetíamos os versos da música de Gonzagão e Fagner.
Nossos passos eram aleatórios, seguindo o estilo pós moderno da coreografia da Sophia.
— O que vamos fazer neste domingo em família? — Perguntei, enquanto dançava e ria.